sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pobre menina

Uma menina, podemos dizer. Vinda do interior para a Capital, a fim de estudar e construir um futuro brilhante e ser o orgulho dos pais, irmãos, parentes e amigos da cidadezinha que deixou para trás.

Mas, o futuro da menina  de 19 anos foi interrompido de forma abrupta e covarde, não se sabe por quem e por qual motivo. A história é verídica e envolve mistério, poder, dinheiro, mulheres, álcool e, talvez, até prostituição. Falo isso baseado apenas nas informações colhidas nos veículos de comunicação da Capital.

Certa quarta-feira do mês de agosto de 2011, a jovem, ao sair da faculdade de Direito, assiste ao jogo do flamengo numa churrascaria. Na sequência, ela e seus amigos vão a uma boate. Para encerrar a noite, dirigem-se a um restaurante/bar que fica aberto 24 horas.

Imaginamos, por empirismo, que o consumo de umas e outras cervejas causa desconforto e certa confusão mental, desde que a cerveja tenha álcool. Pois bem. A menina-jovem, ao se dirigir para sua casa, na Capital, seguiu aparentemente sozinha pelas avenidas, já por volta das 5:00 hs da madrugada, dirigindo seu novo uno preto. No meio do caminho tinha uma obra, em fase avançada de construção. Adentrou o recinto, não se sabe se sozinha ou acompanhada.

Ao clarear do dia, lá estava a jovem, sem vida, morta, com ferimentos graves no crânio. Veio a se saber que a causa da morte foi a queda, algo em torno de 25 m de altura, a uma velocidade de 83 km/h.

Será se a jovem se lançou à morte ou a lançaram, e por quê? Briga de namorado, amante, caso de prostituição, drogas?

O que choca a sociedade é que aparenta existirem pessoas poderosas por trás do fato. E isso, para um estado pobre e uma Capital onde todos se conhecem, é terrível. Compra-se veículo de comunicação, policial, juiz, advogado. O império do poder sobressai.

O inquérito policial ainda não foi concluído. A perícia legal foi encaminhada para outra unidade da federação, pois, aqui, não há tecnologia para a resolução de problemas desta envergadura. Na mídia, tenta-se empurrar goela abaixo que o caso foi suicídio e pronto, estamos conversado.

O mistério tem que ser desvendado. A família tem o direito de saber a causa da tragédia. O Brasil tem que deixar de ser paternalista, onde metralhas mandam e desmandam.

Enquanto isso, rezo pelo descanso da menina, pobre menina.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O sistema é uma cruz

Cheguei a uma clínica, numa tarde de segunda-feira, com a intenção de realizar consulta oftalmológica. Ao adentrar o bem arquitetado recinto, dirigi-me à maquininha de senha e retirei o número 459 para o atendimento. Constava no painel eletrônico, até então, o número 445. Dali a algum tempo o meu número seria chamado.

Em seguida, postei-me numa confortável poltrona da sala de espera, acomodei-me, dei uma boa analisada nas pessoas presentes no ambiente e iniciei a leitura do livro da vez que me acompanhava. No primeiro minuto de leitura, minha concentração foi desvirtuada pelo diálogo de duas senhoras de aproximadamente 70 anos, iniciado repentinamente. Uma estava sentada na fileira de cadeiras atrás de mim, a outra, veio ao seu encontro, partindo da maquininha de senha, à minha frente, assim que avistou a colega.

Ao que tudo indica, eram velhas conhecidas, mas que há tempos não se viam, pois, em três ou quatro minutos colocaram em dia a conversa de anos sem ver. Deduzi isso, uma vez que, confessadamente, não me contive em ouvir atentamente a conversa. 

Lógico que descreverei o diálogo, matando a sua curiosidade, leitor ou leitora, que deve ter imaginado que eu não iria socializar o papo! Chamarei de senhora 1 aquela que estava na fileira de trás da sala de espera e, de senhora 2, a que se encontrava retirando a senha de atendimento.

Senhora 1: ei muié! Quanto tempo!
Senhora 2: óxenti! Tu andava por onde mermã?
Senhora 1: vixe, nem te conto!
Senhora 2: ruuum!
Senhora 1: ...fiquei sabendo que o Zezin, teu marido, num sabe mais de nada?
Senhora 2: é muié, o bixim endoidou...Alzheimer!
Senhora 1: não conhece mais ninguém?
Senhora 2: só a gente de casa mermo, mas depois esquece tudo, lembra, esquece...!
Senhora 1: Ôooooo! Coitado! (breve pausa) ... Ah! Sabe o Pedin, meu fí de criação?
Senhora 2: ruuum!
Senhora 1: por num ficou deficiente, o bixim!
Senhora 2: moto? Caiu e num anda mais?
Senhora 1: não... um dia começou a xingar todo mundo, dava “pisa” na empregada lá de casa, saía e não sabia onde tava. O médico internou ele no Areolino de Abreu (Hospital que trata, entre outras enfermidades, de deficiência mental).
Senhora 2: aaaah! Ficou foi doido o coitado! Pensava que num andava mais.
Senhora 1: pois é...!
Senhora 2: ...mas, o resto tá tudo bem, né?
Senhora 1: é....tirando a “cataraca”!
Senhora 2: é assim mermo muié! Todo mundo tem uma cruzinha pra carregar! ... Pois deixa eu ir, foi um prazer!
Senhora 1: o prazer foi todo meu!

“Todo mundo tem uma cruzinha pra carregar”. Essa frase ficou incutida na minha cabeça e a toda hora me martelava. Não conseguia mais me concentrar na leitura. Ainda bem que logo em seguida uma atendente me chamou e eu a acompanhei até uma sala para medir a pressão ocular. 

Feito o procedimento, me dirigi a um corredor e, ali, em frente ao consultório, deveria aguardar até que fosse chamado para a consulta. O primeiro paciente entrou no consultório, um adolescente. Em 15 minutos a consulta dele foi concluída. Nesse momento, mentalmente, elaborei um rápido cálculo: se eu for o quarto da fila, levando cada consulta essa média de tempo, daqui a 45 minutos será a minha vez!

Quando acabo de concluir meu raciocínio, uma voz feminina, no final do corredor, grita: o sistema caiu! Tá tudo fora! Era uma atendente avisando às demais colegas acerca do empecilho que se instalara naquela tarde. Ato contínuo, concluí: os 45 minutos já eram, sabe Deus quando vou sair daqui. Ninguém merece!

Para passar o tempo, comecei a resgatar na memória as várias vezes que precisei utilizar serviços nos quais o sistema estava fora do ar ou, como a maioria diz, o sistema havia caído! Não foram poucas as vezes: banco, Detran, livraria, check-in, supermercado, cartão de crédito, Siafi, posto de gasolina, Universidade, pet shop (...).

Concluí que os sistemas informatizados, em rede, com seus bancos de dados, são ferramentas essenciais nos dias de hoje. Se não estiver no ar, nada funciona, o médico não saberá seu nome e seu prontuário não existirá.

O resultado foi que passei mais de uma hora para ser atendido. Aí, lembrando das várias ocasiões nas quais o sistema me deixou na mão, lembrei da frase de que “todo mundo tem uma cruzinha pra carregar”. Pois é ... o sistema é uma cruz!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Pra você Nina!

Escrevo hoje em homenagem especial, com o peito tomado de saudades, a uma criaturinha muito terna que soube conquistar corações. Falo da Nina, nossa cadela. Sim! uma cadela robusta, linda, assustadora, mas muito brincalhona e meiga. Da raça boxer, excelente para o convívio com crianças, que diga a Maria Luísa e a Maria Eduarda, bem como suas coleguinhas quando chegavam à nossa casa.
Nascida em 12 de outubro de 2010, dia das crianças, segundo seu registro, com dois meses de vida foi parar num pet shop para venda. Eu já havia conversado com a Renata, minha esposa, a respeito de termos um cão de guarda em casa. Pesquisei bastante na internet, em revistas especializadas e colhi depoimentos de pessoas que possuem cachorro em seu convívio. A decisão foi sair em busca de um cão da raça boxer, um macho!
O tempo foi passando e nada de surgir o tal cão ou cachorro da raça pretendida. Sabia que naquele pet shop, vira e mexe aparecia um por lá. Como quem não quer nada, de vez em quando visitava a loja. Lembro até de um Zé Mané, que por lá trabalhava, dizendo para eu desistir, pois lá nunca iria ter um boxer à venda. Não desisti! Confiei no destino!
Um belo dia, num sábado, quase ao meio-dia, já sabendo da existência de uma feira de cachorros naquele pet shop, resolvo parar, com toda a família a bordo, antes de seguir para o almoço na casa da minha sogra. Qual surpresa encontro? Dois cães da raça boxer à venda. Um branquinho, fora do padrão da raça e outro rajado, todo no estilo, um verdadeiro representante da raça. Mas qual a surpresa maior? Os dois cães não eram cães, eram cadelas! Cocei a cabeça, balancei-a em sinal negativo e torci o nariz. Nesse meio tempo as cadelinhas já passavam de um braço a outro, entre Malu, Duda e Renata. Aquilo não me agradava muito até então.
Como meu voto era vencido, ante o quórum instalado, ou seja, três votos a favor da aquisição e um contra (não tão contra assim!), a pauta seguinte foi escolher qual das duas iria morar conosco: a branquinha ou a rajada? Fizeram lobby pela branquinha, até entendo a situação. As duas cachorrinhas, ainda presas numa pequena estrutura de gradeado, recebiam carinho das três meninas lá de casa. De mim também! A branquinha, simpática e carente, lambia nossas mãos como que pedindo para ser adotada, a outra, a rajada, latindo (coisa rara em boxer) e tentando morder a ponta de nossos dedos, estava furiosa com algo ou, quem sabe, com ciúme da irmã ou, ainda, tentando protegê-la.
Bom! Nesse caso, a palavra final foi a minha. Contra tudo e contra todos decidi pela cadelinha rajada. Assinei um cheque de R$ 1.000,00 e lá fomos nós, sem antes, é claro, terem empurrado um monte de apetrechos caninos, onerando ainda mais minha vermelha conta. Mas foi por uma boa causa, diga-se! O certo é que a família contava agora com quatro “meninas” e um “menino”. Não tive dúvidas quanto ao nome de batizo da cachorrinha: Nina! (Nina de menina, de canina...e por aí vai!).
Nos primeiros dias, Nina dormiu dentro de casa, era muito pequena e algum mal poderia acontecer a ela. Com o passar dos dias foi se adaptando ao terreno e tomando conta do pedaço. Lembro que a Maluzinha, certo dia, estava assistindo TV na sala e, pasmem, a Nina também, adormecendo logo em seguida. Não demorou muito até Nina eleger um canto predileto, no qual poucos ousavam encostar: o sofá da sala! Lá parecia seu reinado, deitava, mordia, dormia (um sono cachorro)... até que tivemos que acabar com essa farra, a final de contas o objetivo de Nina seria, apesar dos mimos, ser um cão, digo, cadela de guarda.
Passado o período de adaptação e ambientação, Nina começou a despertar para o mundo e mostrar seus primeiros dotes específicos da raça. Pulava alto, além de ser uma exímia mordedora. O que estivesse pela frente tornava-se presa fácil. Devorava de sapatos ao para-choque do carro, da camisa pendurada no varal ao rodapé da porta. Certo dia, inventei de plantar um pé de açaí. Ela ficou olhando aquela minha “arrumação” no minúsculo jardim de casa e, quando dei as costas, ela foi lá e comeu todas as folhas da planta, quase matando-a, provocando em mim uma ira de cão bravo.
Quando chegávamos em casa de carro, queria entrar de qualquer jeito no veículo e fazer a farra, talvez quisesse mesmo era passear, passatempo predileto dela. Depois descobriu que o bom mesmo era se mandar. Ao abrir do portão, saia em disparada e ficava passeando na rua, dando uma trabalheira fenomenal para convencê-la a voltar.
Tornou-se amiga de todos lá em casa, sem exceção. Ao ver visitas amigas, pulava de alegria. Gostava de brincar de correr. Corria numa velocidade incrível em voltas na garagem. Depois, em seguida, ficava paradinha, como se estivesse cansada, olhando para o outro lado, mas era truque: preparava o seu bote para avançar. Nunca vi antes uma excelente caçadora de passarinhos, de sapos e de lagartixas (visitas não desejadas por ela). Vez em quando aparecia com um desses seres na boca.
 Quando a Renata lavava louça ou assistia a filmes, lá estava a Nina na companhia. Vez em quando chorava, pedindo colo. Enjoou das rações, queria comida humana, adorava pão! Pulava na Malu e na Duda. Na Duda, gostava de beijar a boca, uma forma carinhosa de sentir o cheiro da “irmã”. Vez por outra dava uma mordidinha de carinho no dedinho da Maria Eduarda. Nada de grave, só susto e choro. Quando ouvia a voz das meninas no piso superior da casa, na primeira oportunidade subia as escadas e lá estava ela lambendo e deixando sua baba nos rostos sonolentos que vacilavam pela manhã, ou fazia companhia buscando um cantinho na cama. Ao primeiro grito, corria em disparada. Sabia que estava errada.
A Renata era a que sempre levava a Nina para o pet shop. Ali a Nina era cuidada, vacinada, banhada. Nas primeiras vezes que chegou em casa após essas mordomias, trazia consigo um lacinho na coleira. Que engraçado! Eu pensava: meu Deus, parece uma criança! E parecia gostar de tudo isso. As pessoas na rua paravam, admiravam e pediam para acariciar a Nina. Lá em casa ninguém gostava quando ela lançava um olhar de tristeza, solidão, quando uivava pedindo atenção. Adotei um hábito de assoviar pra ela que, por sua vez, respondia com uivos. Era um verdadeiro diálogo.
Na vizinha havia muitos cães, sabíamos pelos intermináveis latidos. Nina era muito na dela, nada de latir à toa. Só nos momentos certos. De repente, Nina começou a se apresentar estranha, triste, com solidão. Não queria comer nem beber. Fez exame de sangue. Veio o resultado ou, digamos, a sua sentença: Leishmaniose visceral, vulgarmente conhecida como calazar (doença negra). O Centro de Zoonoses recomedou o que eu não gostaria de comentar.
Nina viveu rápidos nove meses, sete em nossa companhia. Ganhou nosso amor, nossa confiança e nossas eternas saudades. Estas palavras são pra você Nina! Obrigado pela sua convivência.
Teresina, 22 de julho de 2011.

domingo, 3 de julho de 2011

Cronista amador

Fico extremamente entusiasmado quando leio uma nota em jornal, revista ou internet que descreve uma situação real, porém com toques literários. Causa-me certa inveja do escritor, inveja boa, se é que existe!

O fato é que pretendo me lançar nesse mundo da crônica, apenas com a vontade de escrever algo diferente, diferente das instruções processuais e relatórios de auditoria que estou acostumado a fazer faz quase dez anos.

Logicamente não pretendo me tornar um poeta ou escritor afamado da noite pro dia com a intenção de virar celebridade. Mas pretendo deixar escrito o que o pensamento não registra fisicamente aos demais, que gostam de ler.

Aliás, o blogger é um espaço democrático e qualquer um pode criar seu próprio blog, mesmo que ninguém ou poucos leiam suas postagens. Se existe esta ferramenta disponível, então vamos usá-la para o bem.

Para início de conversa, deixo registrado aqui o que seja crônica, cuja definição encontrei na internet:

"A crônica é um gênero que tem relação com a ideia de tempo e consiste no registro de fatos do cotidiano em linguagem literária, conotativa. A origem da palavra crônica é grega, vem de chronos (tempo), é por isso que uma das características deste tipo de texto é o caráter contemporâneo" (http://www.brasilescola.com/redacao/a-cronica.htm)

Para manter essa ideia acesa, a meta inicial é publicar, nos primeiros seis meses, uma crônica mensal. A partir do sétimo mês uma crônica a cada 15 dias.