Escrevo hoje em homenagem especial, com o peito tomado de saudades, a uma criaturinha muito terna que soube conquistar corações. Falo da Nina, nossa cadela. Sim! uma cadela robusta, linda, assustadora, mas muito brincalhona e meiga. Da raça boxer, excelente para o convívio com crianças, que diga a Maria Luísa e a Maria Eduarda, bem como suas coleguinhas quando chegavam à nossa casa.
Nascida em 12 de outubro de 2010, dia das crianças, segundo seu registro, com dois meses de vida foi parar num pet shop para venda. Eu já havia conversado com a Renata, minha esposa, a respeito de termos um cão de guarda em casa. Pesquisei bastante na internet, em revistas especializadas e colhi depoimentos de pessoas que possuem cachorro em seu convívio. A decisão foi sair em busca de um cão da raça boxer, um macho!
O tempo foi passando e nada de surgir o tal cão ou cachorro da raça pretendida. Sabia que naquele pet shop, vira e mexe aparecia um por lá. Como quem não quer nada, de vez em quando visitava a loja. Lembro até de um Zé Mané, que por lá trabalhava, dizendo para eu desistir, pois lá nunca iria ter um boxer à venda. Não desisti! Confiei no destino!
Um belo dia, num sábado, quase ao meio-dia, já sabendo da existência de uma feira de cachorros naquele pet shop, resolvo parar, com toda a família a bordo, antes de seguir para o almoço na casa da minha sogra. Qual surpresa encontro? Dois cães da raça boxer à venda. Um branquinho, fora do padrão da raça e outro rajado, todo no estilo, um verdadeiro representante da raça. Mas qual a surpresa maior? Os dois cães não eram cães, eram cadelas! Cocei a cabeça, balancei-a em sinal negativo e torci o nariz. Nesse meio tempo as cadelinhas já passavam de um braço a outro, entre Malu, Duda e Renata. Aquilo não me agradava muito até então.
Como meu voto era vencido, ante o quórum instalado, ou seja, três votos a favor da aquisição e um contra (não tão contra assim!), a pauta seguinte foi escolher qual das duas iria morar conosco: a branquinha ou a rajada? Fizeram lobby pela branquinha, até entendo a situação. As duas cachorrinhas, ainda presas numa pequena estrutura de gradeado, recebiam carinho das três meninas lá de casa. De mim também! A branquinha, simpática e carente, lambia nossas mãos como que pedindo para ser adotada, a outra, a rajada, latindo (coisa rara em boxer) e tentando morder a ponta de nossos dedos, estava furiosa com algo ou, quem sabe, com ciúme da irmã ou, ainda, tentando protegê-la.
Bom! Nesse caso, a palavra final foi a minha. Contra tudo e contra todos decidi pela cadelinha rajada. Assinei um cheque de R$ 1.000,00 e lá fomos nós, sem antes, é claro, terem empurrado um monte de apetrechos caninos, onerando ainda mais minha vermelha conta. Mas foi por uma boa causa, diga-se! O certo é que a família contava agora com quatro “meninas” e um “menino”. Não tive dúvidas quanto ao nome de batizo da cachorrinha: Nina! (Nina de menina, de canina...e por aí vai!).
Nos primeiros dias, Nina dormiu dentro de casa, era muito pequena e algum mal poderia acontecer a ela. Com o passar dos dias foi se adaptando ao terreno e tomando conta do pedaço. Lembro que a Maluzinha, certo dia, estava assistindo TV na sala e, pasmem, a Nina também, adormecendo logo em seguida. Não demorou muito até Nina eleger um canto predileto, no qual poucos ousavam encostar: o sofá da sala! Lá parecia seu reinado, deitava, mordia, dormia (um sono cachorro)... até que tivemos que acabar com essa farra, a final de contas o objetivo de Nina seria, apesar dos mimos, ser um cão, digo, cadela de guarda. Passado o período de adaptação e ambientação, Nina começou a despertar para o mundo e mostrar seus primeiros dotes específicos da raça. Pulava alto, além de ser uma exímia mordedora. O que estivesse pela frente tornava-se presa fácil. Devorava de sapatos ao para-choque do carro, da camisa pendurada no varal ao rodapé da porta. Certo dia, inventei de plantar um pé de açaí. Ela ficou olhando aquela minha “arrumação” no minúsculo jardim de casa e, quando dei as costas, ela foi lá e comeu todas as folhas da planta, quase matando-a, provocando em mim uma ira de cão bravo.
Quando chegávamos em casa de carro, queria entrar de qualquer jeito no veículo e fazer a farra, talvez quisesse mesmo era passear, passatempo predileto dela. Depois descobriu que o bom mesmo era se mandar. Ao abrir do portão, saia em disparada e ficava passeando na rua, dando uma trabalheira fenomenal para convencê-la a voltar.
Tornou-se amiga de todos lá em casa, sem exceção. Ao ver visitas amigas, pulava de alegria. Gostava de brincar de correr. Corria numa velocidade incrível em voltas na garagem. Depois, em seguida, ficava paradinha, como se estivesse cansada, olhando para o outro lado, mas era truque: preparava o seu bote para avançar. Nunca vi antes uma excelente caçadora de passarinhos, de sapos e de lagartixas (visitas não desejadas por ela). Vez em quando aparecia com um desses seres na boca.
Quando a Renata lavava louça ou assistia a filmes, lá estava a Nina na companhia. Vez em quando chorava, pedindo colo. Enjoou das rações, queria comida humana, adorava pão! Pulava na Malu e na Duda. Na Duda, gostava de beijar a boca, uma forma carinhosa de sentir o cheiro da “irmã”. Vez por outra dava uma mordidinha de carinho no dedinho da Maria Eduarda. Nada de grave, só susto e choro. Quando ouvia a voz das meninas no piso superior da casa, na primeira oportunidade subia as escadas e lá estava ela lambendo e deixando sua baba nos rostos sonolentos que vacilavam pela manhã, ou fazia companhia buscando um cantinho na cama. Ao primeiro grito, corria em disparada. Sabia que estava errada.
A Renata era a que sempre levava a Nina para o pet shop. Ali a Nina era cuidada, vacinada, banhada. Nas primeiras vezes que chegou em casa após essas mordomias, trazia consigo um lacinho na coleira. Que engraçado! Eu pensava: meu Deus, parece uma criança! E parecia gostar de tudo isso. As pessoas na rua paravam, admiravam e pediam para acariciar a Nina. Lá em casa ninguém gostava quando ela lançava um olhar de tristeza, solidão, quando uivava pedindo atenção. Adotei um hábito de assoviar pra ela que, por sua vez, respondia com uivos. Era um verdadeiro diálogo.
Na vizinha havia muitos cães, sabíamos pelos intermináveis latidos. Nina era muito na dela, nada de latir à toa. Só nos momentos certos. De repente, Nina começou a se apresentar estranha, triste, com solidão. Não queria comer nem beber. Fez exame de sangue. Veio o resultado ou, digamos, a sua sentença: Leishmaniose visceral, vulgarmente conhecida como calazar (doença negra). O Centro de Zoonoses recomedou o que eu não gostaria de comentar.
Nina viveu rápidos nove meses, sete em nossa companhia. Ganhou nosso amor, nossa confiança e nossas eternas saudades. Estas palavras são pra você Nina! Obrigado pela sua convivência.
Teresina, 22 de julho de 2011.